terça-feira, 25 de setembro de 2018

E. E. Prof. Plínio Paulo Braga: anseios e arquitetura

Grupo Escolar do Bairro do Taboão fora fundado em meados da década de 1950, época em que o país tinha como pauta uma das discussões mais importantes no âmbito educacional. A Constituição de 1946 previa que a União legislaria sobre as diretrizes e bases da educação nacional. Por esta razão, fazia-se necessária a mudança no sistema de ensino. O Governo Federal prevendo essa necessidade organizou uma comissão notáveis a fim de que, após estudos e apontamentos,  apresentasse em conjunto uma reforma geral da educação cujo objetivo era encontrar a solução adequada àquela situação em que o país se encontrava. O produto desse debate gerou um projeto de lei o qual fora apresentado à Câmara Federal em 1948, sendo objeto de disputa política por dois grupos ideológicos divergentes. Após longos embates políticos, o projeto resultou na Lei da Diretrizes e Bases (Lei 4.024) promulgada em dezembro de 1961.

É neste cenário que a escola é fundada, os princípios da educação enfim visavam abranger os interesses da classe operária. A escola aberta para a atender a demanda de uma população em crescimento acelerado, rompendo a barreira da educação restritiva. Em Guarulhos, a população crescia a passos largos devido ao processo de industrialização e da expansão do comércio, fatores preponderantes para o salto socioeconômico da cidade. Em 1920 o município apresentava índice de 5.961 moradores, número freneticamente ampliado na década de 50 que passa a ter 34.683, chegando a 100.760 nos anos 60. Números cada vez maiores no decorrer dos tempos, hoje a população guarulhense está na casa de 1.221.979, de acordo com o censo do IBGE.

Pode-se imaginar que a educação em 1920 no município era deficitária uma vez que até o ano de 1918 o distrito possuía apenas 2 no centro da cidade, Escola Mista do Bom Sucesso, Mista da Ponte Grande, Mista da Baquirivu, noturna Mista da Vila Galvão e a Mista da Vila Augusta. Eram 7 escolas para atender a demanda de quase 5 mil guarulhenses. Todavia, quatro décadas depois, passara a ser de caráter emergencial, afinal a população crescera de maneira exponencial. Neste ínterim, são inauguradas aproximadamente mais 26 escolas, no entanto, algumas delas deixaram de funcionar, sendo alocadas para outros centros, tal qual a primeira escola do bairro do Taboão, Escola Municipal Mista do Taboão. As escolas tinham características diversas, a Mista do Taboão contava apenas com a lotação de 1 professor, assim como a Escola Mista Municipal do Gopoúva. O ensino primário oferecido nestes períodos funcionava durante dois turnos: dia e noite. A  7ª Escola Mista (masculina e feminina), com sede no bairro Fortaleza, fora a 1ª Escola Masculina Rural pela Lei n° 61 de 01-09-1949. É relevante abordar que no início dos anos 40, o município contava com apenas 22 professores.

Em novembro de 1956 o Grupo Escolar do Bairro do Taboão é inaugurado. A linguagem arquitetônica conferia ao prédio muita simplicidade. Sua estrutura física assemelhava-se à uma casa, com muros baixos, limitada de apenas duas salas de aula - atualmente funcionam a secretaria e sala dos professores, construída de alvenaria com acabamento rústico, não possuía alas, tampouco ambientes para atividades complementares como anfiteatro e laboratório de ciências e inexistia quadra esportiva. Era, sem dúvida, destoante daqueles edifícios monumentais dos primeiros Grupos Escolares da sociedade letrada do final do século XIX dos centros urbanos cujos padrões estéticos sobressaiam "de fachada grandiosa, hall de entrada primoroso, escadarias, duas alas, uma para meninos, outra para meninas, eixo simétrico, pátio interno, acabamento com materiais nobres, portas com bandeiras, janelas verticais grandes e pesadas (...)", como descrevem Ester Buffa e Gelson Almeida Pinto  em Arquitetura e Educação: Organização do  Espaço e Propostas Pedagógicas Dos Grupos Escolares Paulistas, 1893/1971, p. 18. 


Escola na época de sua fundação

A escola, de forma paliativa, para atender a demanda nos anos subsequentes a sua fundação que fora até a década de 70, utilizava espaços externos como extensão. Um deles é a Escola Mista do Bairro do Taboão, escola desativada no início dos anos 50. Neste local, era montada classes adicionais.


Não esquecendo da quadra que até meados de 70 não existia, os alunos tinham de praticar atividades físicas fora da escola. Iam inicialmente num terreno baldio na lateral direita da escola do outro lado da rua - onde hoje é o estacionamento de um mercado. "Isso mesmo na área do estacionamento do mercado, era um limpão de terra vermelha que ficava bem de frente com a cerâmica que existia bem no prédio do mercado.", relata o ex-aluno Jurandir.


Além deste espaço, o diretor alugou uma quadra nas cercanias da escola. Dona Josefa Adão, 82 anos, proprietária do terreno na época, em entrevista recente, diz que que certo dia uma mulher fora à sua casa solicitando que ela alugasse a quadra para a prática esportiva dos alunos da escola. Ela não se lembra ao certo quem era a pessoa nem o cargo que ela exercia na escola. Disse que o contrato entre as partes para uso do espaço foi de boca, nunca formalizaram o aluguel da quadra. O valor cobrado era uma bagatela de 2 ou 3 Cruzeiros, estando mais para um valor simbólico do que um negócio lucrativo. Tanto é que o uso do espaço não passou de 1 ano. Ela não era na época moradora do bairro, trabalhava e residia em São Paulo, no Brás, não teve contato com os alunos que usavam a quadra naquele tempo. Ademais, Terezinha do Prado, sobrinha da Dona Josefa, fora quem indicou o espaço para a professora de educação física Diva (japonesa). Esta quem procurou dona Josefa para o aluguel da quadra. A quadra era de cimento, diferente do "limpão" ao lado da escola no qual os alunos com os uniformes brancos saiam depois da aula todos sujos de barro. Terezinha relembra os nomes dos colegas de classe que utilizaram o espaço de sua tia que inclusive ela, o Jurandir, o professor José Carlos e outros. 


Atividade física no terreno baldio.



Atrás do casal a quadra que a escola alugava. 

(Imagem do arquivo pessoal da Terezinha do Prado)



O ideário da Escola Nova, presente nos anos 50 e 60, pressupunha uma edificação escolar voltada a contemplação dos anseios das propostas pedagógicas dessa era em que prezava-se não somente a alfabetização, mas também que a criança fosse formada em seus hábitos e atitudes, cultivando aspirações e preparando-as para uma civilização técnica e industrial em constante transformação. A escola, sofrendo essa influência de preceitos pedagógicos de escola para todos e formação cidadã, do mesmo modo carrega consigo de fato a arquitetura moderna dentro dos moldes escolanovistas, em que a simplicidade se sobrepõe ao ornamentalismo, ambiente econômico e útil oposta à escola-monumento elitizada. A discordância destas ideias da Escola Nova e da atuação do Convênio na construção das escolas dessas duas décadas é que para constituir este ambiente escolar, os projetistas criaram uma escola demasiadamente minimalista, nessa construção apenas 2 salas de aula foram feitas, a integração das crianças era numa vegetação de cerrado sem jardim, nada amigável aos estudantes que por vezes também praticavam atividade física em terreno de terra batida.

Por fim, o antigo Grupo Escolar do Bairro do Taboão, atual E. E. Professor Plínio Braga, trouxe à cidade de Guarulhos desde sua formação a contribuição de escolarizar milhares de alunos meio a tantos outros projetos de ensino discutidos e vigorados durante seu percurso até o momento. Está, desde o começo, tentando tornar a escola ambiente acessível a toda população local que nela buscou evoluir através dos tempos. Com prédio ampliado: novas alas com mais salas de aula, sala de leitura, laboratório de informática, sala de vídeo, quadra coberta; recursos como merenda gratuita, material de aprendizagem gratuito e tantos outros benefícios são destaques deste tempo. Contemporaneamente, a escola almeja que o espaço seja propício à formação integral dos estudantes e que, realmente, o alunado encontre na escola acesso e permanência para seu desenvolvimento pessoal, profissional e cidadão.



Série "Tecendo os Fios da História: Narrativas Orais".
Memorial Professor Plínio Paulo Braga
Entrevistada: Terezinha do Prado
Data: 29/09/18
Sobre a E. E. Professor Plínio Paulo Braga
Assunto especifico: Arrecadação para o pagamento da quadra alugada na década de 1970 para atividades de educação física.



Série "Tecendo os Fios da História: Narrativas Orais".
Memorial Professor Plínio Paulo Braga
Entrevistada: Terezinha do Prado
Data: 29/09/18
Sobre a E. E. Professor Plínio Paulo Braga
Assunto especifico: sala externa à escola, local próximo ao Corpo de Bombeiros.


Referência bibliográfica:

THEODORO, Janice.  A construção da cidadania e da escola nas décadas de 1950 e 1960. Disponível em: < http://historia.fflch.usp.br/sites/historia.fflch.usp.br/files/texto_escolas_paulistas.pdf>. Acesso em 24 set 2018.

RANALI, João. Cronologia Guarulhense, 1º Volume.

Secretaria da Educação Municipal. Conferência Municipal de Educação. Construindo o Plano Municipal de Educação: Guarulhos 2012 - 2022. Disponível em: <https://www.guarulhos.sp.gov.br/sites/default/files/documento-base_hotsite2.pdf>. Acesso em 24 set de 2018.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.  Índice populacional de Guarulhos. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/guarulhos/panorama.> Acesso em 24 set 2018.